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terça-feira, fevereiro 03, 2004

Faithfulness.

Há coisas que estão destinadas e que nós não conseguimos, nunca, retirar de dentro de nós. Existem quartos cuja imagem se assemelha por demais àquilo que um dia imaginámos, estando o nosso corpo pousado, a dormir ou a deixar passar o tempo. E nas cortinas que fecham a luz, que a impedem de entrar, existe um cheiro de maresia e de passado. Fartas em desenhos, estão as paredes que conseguem confinar o sono à sua forma mais original e bruta: os olhos fechados, como que enclausurados dentro da sua própria rigidez, e o resto do corpo ... absorto ... de tudo o resto. E é assim que se formam os mundos. Formam-se geadas dentro da pele, temos alergias a tudo o que vive em redor, e não olhamos sequer para aquilo que adormeceu dentro de nós. E eis que, ao fim de alguns anos, tudo isso desperta novamente, e as intempéries que rodearam a casa desaparecem, desformam-se: morrem. Sei que sou tóxico, não tenho nenhum truque que me permita surgir onde não me esperam mas tenho de mim a idéia de que eu, algures dentro do chão, escondo fotografias que disse que não iria nunca ver, que nunca me permiti tirar, não com outrém. Existem rastos de luz dentro das mãos, não tenho sombra hoje porque o meu peso já me ultrapassa a vontade, e o corpo já está por demais lancinado para que consiga caminhar, calmamente, até ao fim da rua, onde tu estás: e eu deixei de o saber.
Deixámos a procura para os mais velhos - a nossa caminhada prende-se no que não há-de chegar, naquilo que não procuramos e que, quando chega, não vemos chegar. E talvez por isso eu saiba, hoje, que nunca o procurei, durante muitos anos, e que por fim acabei por não encontrar.



Foi isto que nunca soubeste ?

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