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terça-feira, novembro 21, 2006

Cinza.

Dizer-te viva por entre os escombros é uma mentira inconsequente que todos nós, eventualmente, dizemos.

decorei os caminhos apenas para não me perder e saber
de forma verosímil
como chegar a ti: ou quiçá a maneira mais simples de fugir.

procuraste um homem que não era eu e que nunca vi; ao olhar-me ao espellho procurava, então, fazer silêncio e não despertar o teu abismo e o teu amor.

dormias com um rosto impossível.
nunca mais te acordei.

já não sei as ruas que cruzas, não sei os filhos que criaste ou as horas débeis que o teu corpo partilhou com a penumbra:

sei, apenas, com a vermelhidão de cigarros mal apagados, que
te vi de relance

e hoje não és mais que cinza.

domingo, novembro 12, 2006

Pele.

Caiem lágrimas duras do rosto das estátuas. as ruas têm traços do passado nos lábios. a pele , de tão doce , degela nas mãos e

há restos de ti por toda a parte.

há já muito tempo que substituí em mim o espaço onde os teus gritos ecoavam: a tua loucura foi, a pouco e pouco , diluída em corpos perdidos; o teu rosto foi sendo ocupado por luzes vagas e estéreis: tudo o que era teu ficou à porta de casa.

hoje não tens mais nenhum quarto onde te trancares.

já não é a minha voz que ensurdece crianças que não deixámos nascer. dentro de nós o amor - como o conhecíamos - já não existe. agora só há caminhos pelos quais nunca andámos e

ao recuarmos o suficiente

conseguimos ver quem nos bate à porta e olha , de soslaio , a medo

e espera que lhe digamos um "olá" sincero.