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quarta-feira, janeiro 27, 2010

prisioneiro

tira-me daqui - diz o prisioneiro.

sabe que está preso por sua culpa. a liberdade retirada nada mais é que um doce servido tarde demais.

ouve as vozes lá fora sabendo que as palavras são imperceptíveis. os visitantes assomam-se aos seus olhos e a febre tolda-lhe a memória:
não se recorda dos nomes nem das posições.

sabe de cor o cheiro porque é a única coisa que penetra os grilhões e a cárcere que lhe mantém a mente absorta,
como que anestesiada.

surgem gemidos durante a noite. o acompanhamento liquído da dor que irrompe pela boca, sem aviso e sem piedade.

a sua voz torna-se pó: suja quem a ouve. e castiga quem não pode.

o sol não existe lá fora mesmo que não o possas tocar. mesmo que a tua pele incandesça e sinta mil verões de uma só vez:
todo o suor é apenas o purgatório para saberes exactamente o que dizer

quando te deixarem sair.