existe arte na forma como se colocam palavras no lugar de rostos. existe um gosto refinado em, a meio da noite, ao invés de dormir e descansar como todos os outros, relembrar caminhos acidentados que não foram dar a lugar algum.
dá gosto olhar directamente nos nossos próprios olhos e ver como tudo está diferente:
as paredes são outras;
a face surge agora mais coberta e mais queimada pelo sol;
a respiração está mais pesada devido a inúmeros cigarros já desperdiçados:
e na cama há outros nomes que dormem sem serem pronunciados.
no entanto, é curioso imaginar como seria se nos tivéssemos atrasado a apanhar aquele comboio; como seria se tivéssemos dito ao ardina que não queríamos aquele jornal; como seria se tivéssemos esperado mais uns minutos para ouvir um "bom dia" novamente.
Talvez agora o nosso corpo estivesse noutro lugar, a ouvir outras histórias e com mais imagens para recordar.
mas eis que ela acorda durante a noite e nos leva para uma casa sem nada nas paredes.