há dias assim.
há aqueles dias em que não conseguimos sossegar, onde quer que estejamos. há horas em que fumamos em catadupa mas o peso da pele não passa e ainda grita.
tentamos comer sabendo que já não há alimento. iludir o corpo é algo bastante fácil que se consegue com anos e anos de treino.
mas mesmo assim o peso no peito não passa. e agora queima.
irritamo-nos, sentimos que a face se ruboriza de raiva ou de tristeza - já não se consegue distinguir - e tentamos falar: nada sai, apenas sons imperceptíveis balbuciados entre lágrimas.
porque choras? - pergunta uma criança imaginada em tempos mas sem nome.
não há resposta. não há motivos. não é preciso ninguém saber o porquê. ninguém entenderia. ninguém saberia o que fazer.
ninguém te saberia dizer que está tudo bem
como tu próprio explicaste, em tempos.
o peso no peito já dilacera o raciocínio. a única resposta que surge é fugir mas .. os dias de fugir sem destino já lá vão; o corpo já não aguenta o cansaço de nomes e nomes e nomes seguidos a ritmos alucinantes
that's not my life anymore. mas existirá sempre a puta do passado do qual só restam tatuagens.
e o telefone toca, ecoando rostos perdidos por entre os actos indeléveis. e pedir perdão já não se usa e já ninguém quer saber.
a criança fica, portanto, sem resposta.