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sábado, maio 09, 2015

Coincidência.

Não foi de rompante. Não foi sem aviso.

Aos poucos, foste invadindo as paredes e vestindo-as de regresso anunciado.

hoje conheci os filhos dos outros. tive-os no colo, fiz-lhes o cavalinho e gatinhei com eles, devagar. Construimos castelos e falámos em línguas indecifráveis, mas falámos

e julgo que estava com o rosto sereno que sempre conseguiste ver em mim.

Faltam apenas algumas horas para esta cidade se encher de gritos e euforia. E todos esses sons trazem á tona o cheiro dos nossos dias, dos festejos que partilhámos, das vezes em que envolvi o teu corpo no meu abraço para impedir que implodisses no meio de desconhecidos.

E quando o teu rosto sorri na memória, o peito inunda-se de fotografias que perdi ao longo dos anos.

como te disse, conheço os filhos dos outros

mas tu esqueceste o meu.

segunda-feira, maio 04, 2015

Norte.

não há nada a dizer quando o teu ser anónimo se assoma à janela para espreitar.

nada há a ver a não ser paredes que um dia tiveram um sítio para onde ir e sorrisos para lhes pendurar, com nomes e desenhos de cidades longínquas.

olhei imensas vezes para as palavras que pintaste na minha pele, para a fotografia que tiraste

comigo ainda a dormir

como que a tentares aprisionar o meu peito inquieto e fugídio num rolo de filme a preto e branco.

mas o fugitivo apenas aprendeu uma coisa durante a sua existência: partir.

ele chega a casa apenas para saber quando sair novamente, apenas para relembrar os lençóis que deixou ainda quentes, as mensagens ainda por ler e o teu rosto demasiado desvanecido para recordar.

é por isso que sei o nome de todas as ruas que te circundam, de todas as cidades por onde viajaste e os rostos por onde te perdeste:

porque onde estás é o único norte que me surge antes de adormecer.