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segunda-feira, março 27, 2006

as águas em redor.

em silêncio

surgem as lágrimas em redor dos sonhos que queimámos nos invernos rigorosos. hoje há pesos que nos puxam as pálpebras e nos fazem fechar os olhos aos rostos de outros, homens que surgiram entretanto e se assomaram à pele.

nunca deixes

caminhamos, a passos largos, para a porta que se nos entreabriu. temos a mesma chave, a mesma fechadura, as mesmas palavras a ecoar como tatuagens céleres e indeléveis.

hoje não

sempre vi quem eras e assim o teu nome ficou gravado na retina dos pássaros. Surgem amigos, mas não como dantes, quando o tempo era fugaz e poucos quilómetros nos separavam do mar.

explodem as ondas

e, como te disse,
nunca deixes.

sexta-feira, março 24, 2006

Fazer de conta.

"I know it won't be long until I see your rising eyes wander behind my skin,
and watch it grow again."

Os dedos tocam músicas que se foram incorporando no corpo, ao longo dos anos em que teimávamos deixar o tempo decidir.

Um dia houve em que os desejos tomaram conta de nós: e o peso das decisões adiadas encurvou-nos o sorriso.

Recebemos cartas e, junto delas, cresce um odor acre que deixa um rasto luminoso nas mãos , como que tentando desvendar e dar a conhecer os caminhos por onde deixamos as roupas que não tivéramos tempo para vestir.

Fomos embora, deixando portas entreabertas e olhos curiosos a vaguear

pelos móveis
pelos lençóis
pelos quadros

que um dia mandei desenhar em ti.

Depois, a água rodeou-nos os quadris: ficámos inertes, presos aos nossos próprios olhares: obrigados como presas a sentir, a c a d a m o m e n t o

a carne devassada e plúmbea.

Deixámo-nos ir, um rente ao outro. Deixámos os dias passarem, os cigarros queimarem as poucas recordações do nosso cheiro submerso

why haven't you told me that

a chama alienou-se do espaço
e o teu sorriso tão longínquo ainda ecoa

entre os dedos surdos
que mutilam sons
tentando ouvir a tua voz.

segunda-feira, março 13, 2006

Ensangue.

Tens o rosto triste e a pele cheia de pó deixa que as
mãos
apenas sosseguem quando te tocam o rosto.

Por vezes, os olhos cruzam-se nas rugas que as mulheres teimaram em cavar em tudo o que criámos, no tudo que nomeámos

em todos os peitos rasgados como metal.

Olhei para todos os sítios onde estiveste: tive na mão os lençóis que o teu amor deixou húmidos: a saliva coagula por não poder perder nomes onde antes tinha sorrisos.

agora há terra e estradas tortuosas que tapam o teu medo

e te deixam preencher-me a pele.