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segunda-feira, novembro 10, 2003

Casa - quarto - secretária - a ouvir Tribalistas - a velha infância.

Não sei se mais alguma vez virás aqui depois de hoje. Sei, sim, que será aqui que te vou esperar, outra vez. Não me importa quantas vezes, quanto tempo, quantas distâncias hajam entre nós e o mundo. Sei que estarás aí­, desse lado que eu não consigo ver, e sei que eu vou esperar-te. Poderia dizer-te inúmeras coisas, poderia mostrar-te milhentos sítios bonitos, poderia falar-te com mil palavras diferentes e de nada me valeria. Tudo aquilo que te quis dizer já o disse: resta-me esperar-te. Não sei se algum dia vais ouvir aquilo que os outros não dizem de mim. Admito que já andei por inúmeros sí­tios, todos eles diferentes. Alguns deles eram lindos, principescos, com almofadas de cetim e ceias regadas com muito vinho. Tudo do bom e do melhor - que mais se poderia querer?. Também já estive em sí­tios onde desejo que nunca estejas. Estive em casas abandonadas, vi pessoas que já não pertenciam ali, vi decadência e podridão - vi a natureza dos homens, amor. E consegui sair de lá, ainda de pé, com o meu orgulho intacto, com as minhas mãos ainda limpas e lavadas. Nunca me permiti sujar-me, conspurcar-me. Posso estar do outro lado do mundo, posso estar dentro de casas orientais, casas sujas, cheias de ví­cios e de despudor - mas continuo a ser eu próprio, da mesma forma que era antes - aquela que tu conheces. Sou o mesmo com quem dormiste noites a fio, sou o mesmo que acordou contigo e te olhou daquela forma terna que só tu conheces. Fui eu, o mesmo eu, que acordou horas antes, e que ficou a fitar-te de uma forma completa, sem perceber o que fazia. Era assim, mágico. Era assim que nos amávamos. Era assim, desta forma absoluta, que nos escondíamos do mundo enquanto a noite perdurava. E as músicas continuam a soar, algures longe daqui, onde eu já não consigo ouvir. E sei que estás aí­, por mais longe que tenhas fugido: e por mais tempo que leve, irei encontrar-te e iremos nascer, ambos, a partir daqui.

quinta-feira, novembro 06, 2003

Deixar de escrever.

De nada vale ouvir músicas das quais sei que gostavas. Não vale a pena recordar que te li vários textos na mesma noite; não vale a pena lê-los, sozinho, sem a tua voz aqui mesmo ao lado, e então ouvir as mesmas músicas - porque será sempre incompleto. Mais um pouco e estarei bem. Mais um pouco de tempo e estarei como já estive: sim , de forma diferente , agora que não estás aqui; sim , mais longe do que antes do algo que procuro e que, mesmo assim, não sei bem o que é. Tornou-se estranho. Tornou-se estranho acordar, já sem febre, e não ser a ti que oiço pela primeira vez. Tornou-se estranho e quase impossível pensar em filhos ou em casas caiadas de febre sem que estejas aqui. Estou mais distante de mim que nunca. E estou mais perto. Porque talvez desta forma me consiga, enfim, abrir e deixar de escrever - coisa que não consigo há meses. Sei que vou morrer quando parar de escrever, mas até para mim as folhas acabam.