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sexta-feira, novembro 28, 2008

rush.

não sei como criar viagens no teu rosto azul e infantil. vejo a tua pele a saber a sal e apetece-me tocar-lhe, como se fosse um espelho em lágrimas onde o meu rosto se quebra em estilhaços estéreis

e damos-lhe um nome de criança.

toco-te as mãos para criar o calor febril de quem tem uma doença incurável a crescer no peito; sei que o teu nome já foi meu e mesmo assim chamei-te.

posso esvaziar os bolsos à procura de bilhetes, deitar fora as garrafas e os maços vazios, tirar o pó dos dedos para que escrevam

e mesmo assim o teu rosto vai saber a sal porque encaixas com perfeição no que resta da palma da minha mão.

domingo, novembro 23, 2008

V

acordas com os lábios secos a meio da noite. não sabes porquê.
acendes o cigarro à pressa porque queres adormecer e tens, colado aos olhos, o rosto que te surgiu durante o sono:

lembras a cor dos cabelos, os traços e a feição perfeita. até consegues sentir o cheiro nos dedos, misturado com o odor amargo do tabaco aceso.

molhas os lábios com a língua, passas a mão pelo rosto e sentes o teu respirar pesado, sôfrego, como se fosses implodir na penumbra, sem emitir qualquer som.

abres os olhos e ganhas a inevitável certeza que te diz a quem o filho pertence e qual o ventre que te espera na sala, sentada no sofá, com um olhar doce à tua espera

e um beijo de destino anónimo guardado lá dentro.

domingo, novembro 16, 2008

às vezes consegues sentir os sonhos na palma da mão.

e é quando tudo caminha para a rua certa que uma luz se apaga e mesmo assim consegues ver no meio da penumbra. vês um par de olhos de água, consegues ver o seu sorriso e pensas: "o que estarias a pensar?" e sabes que não terás resposta.

esperas com o corpo em repouso. recordas o calor das ilhas como se lá tivesses estado e sabes que há algo que não te poderão tirar: a criança que trazes cá dentro.

e abraças e dás a mão e acaricias para que sossegue mas, ao mesmo tempo, prendes-lhe a mão porque não queres que se vá embora.