Sei como é andar na rua sem ter um sítio para ir. e apenas saímos de casa porque nada há lá que nos segure.
Lembro-me de há uns anos ter um rosto de sorriso fácil. e também de quando deixei de o ter.
foi mais ou menos por essa altura que as paredes ruíram e o calor do corpo substituiu o calor do sorriso.
passaram.-se anos sem que sentisse novamente os lábios abrirem como se fossem uma barragem que prende cá dentro a criança que fui.
e avisaram-.me sobre o que viria depois
mas preferi ignorar.
nesses momentos, todo o meu corpo chorava o suor de noites perdidas em conversas inócuas e sem sentido porque apenas empurram o rosto em direcção àquela pequena fotografia que te roubei um dia
e de tanto olhar, o teu rosto cândido e estupidamente feliz foi-se gastando, até que o teu nome desapareceu da assinatura da carta de despedida.
por tudo isto, fumei em catadupa e bebi como um ímpio, para fustigar o corpo por ter olhado para trás tarde de mais,
quando já não consegui ir buscar-te ao fim do mundo e voltar para casa.
mas eis que alguém anónimo, que sorri por detrás da sua memória, nos toca no braço assim, como que por acidente, e nos diz que perdemos o norte.