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segunda-feira, dezembro 26, 2005

Ponte de lobos.

Recordo a casa com sabor amargo enquanto os anos passam e as mãos se liquefazem. Existem passos trémulos de viagens que, antes, eram certas nas nossas mentes insalúbres. Por ora, retomamos o alcóol e as roupas embebidas em poalho: nas algibeiras temos cartas em cinza

e aquilo que fizemos é um retrato fiel do que perdemos.

O amor coalha nas rugas das mãos que parem. Rodeamos as pausas da nossa essência para julgar as sombras que, durante a noite, nos ensombraram a partida:

modernizamos a despedida, criamos palavras novas para sugar o tempo para dentro das mensagens inócuas que emitimos

engolimos em esforço os gestos que não conseguimos mais articular;

novamente imberbe: mais uma vez o rosto perfeito se assoma às pálpebras e ataca a nudez dos nomes.

a tua inocência é uma ponte de lobos

e o medo invade o peito como uma febre difícil de travar e, quando damos por ti, consumiste-nos a pele rosácea sem pejo.

Agora

de quando em vez abres os olhos e , sem controlo, o teu corpo grita a
insensatez da velhice que me consome.

sábado, dezembro 03, 2005

Voz nocturna.

"Dizem-lhe: o mundo fecha os olhos quando a alma chora."

Durante a noite, as vozes soam mais profundas e guturais. Dizemos palavras inconsequentes sem saber que, algures ao fundo da rua, uma outra voz nos escuta e, em soluços, se dispersa por quem fomos.

Procuramos nas algibeiras bilhetes de viagem já diluídos. Fumamos cigarros em convulsão: a espera rodeia-nos as pálpebras. Falamos com amigos durante a madrugada

as vozes ainda secas e profundas.

Palmilhamos a distância entre os nossos corpos: estás onde um dia te recordei.

Apagam-se as luzes. Vêem-se cristais à solta pelos lábios. As mãos cortam-se para que se curem. A nossa febre é a de não sabermos o nosso nome

e de não poder, assim, procurar-te.