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sábado, abril 03, 2004

Não sei como descrever o silêncio que rodeia o teu retrato nestas noites calmas. Tenho a tua espera a enrolar-se-me nos dedos enquanto os cigarros não me acalmam. A tua partida é a única certeza que tenho de que o mundo existe e que, para além dele, apenas os teus gestos sofrêgos e ténues me tocam o cabelo. Tenho o enjoo das palavras vãs ao acordar. Apenas o teu corpo me fala com o peso suficiente que os nomes deixam transparecer. Sei que me esvaneço por entre as cidades onde, nas esquinas, nada se vê, para além da tua imagem dúbia. As tuas mãos tenho eu a noção do que eram: pequenos vãos de escada para os teus segredos, margens que guardavam o meu olhar e a minha surpresa. Acordar torna-se difícil. O esquecimento é apenas a inevitabilidade a tomar conta dos meus olhos, onde o teu sorriso nunca mais se aquietou.

Tenho espaços em branco na memória como que pequenas saliências, como pálpebras que se me abrem quando passo. A tua pele ainda hoje queima, por onde quer que passe deixo incêndios que não sei mais terminar. E apenas o teu sorriso vespertino se me anuncia quando noto que a manhã está perto e que irei adormecer.