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segunda-feira, dezembro 22, 2003

Principezinho dinamarquês.

De ti não vou guardar nada que não deixes. Isto porque as coisas que tenho são minhas, neste momento. Deixaram-te, ultrapassaram-me de uma forma que não conheço e juntaram-se a outras cicatrizes que passeio, com o meu corpo. Não sei o tempo que passou desde a última vez que não vieste aqui, nem sei sequer se, depois disso, retornaste a este lugar onde agora estou. Se vieste, perdoa. Olho em volta mas de ti não há sinal, logo não consegui perceber que o teu perfume rondava no ar. Talvez a minha doença seja essa: não saber quando estás ou quando partiste. Não ter a certeza definida de que os teus passos ladeiam as minhas memórias e que, no chão, se estendem cobertas e lençóis. Permaneço de pé, para que seja diferente, para que as semelhanças não me façam deitar novamente, de face encostada à almofada vermelha, e sentir que, ali, nada mais importa. Mas a meia-noite passou. Fiquei surpreso com a velocidade a que as memórias nascem crescem fornicam morrem deixam pó nos olhos. Dir-se-ia - quem não soubesse - que te acompanham: elas as memórias.




Começo tarde demais a lembrar-me e agora já de nada vale fazê-lo. Sabes porquê? Porque me disseram, em surdina, que ao termos lembranças de alguém, ou objectos que deles nos lembrassem, seria uma forma de dizer que te esqueceria, eventualmente. E, sem morrer, não consigo.

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