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domingo, janeiro 04, 2004

Tenho algo de ti espalhado pela casa, a esta hora tardia. Lembro-me que escrevemos, ambos, na tua pele então bronzeada, o que éramos. E agora nada mais há a não ser copos vazios pelas minhas mãos já cansadas. Eu estou velho, não sei mais o que fazer para que desapareça. Existem escolhas que se mostram a mim, no papel, em cima da secretária, e as músicas que ouço tendem a perdurar no interior dos meus ouvidos - no meu dia. Sei que a noite só existe para lembrar aquilo que já cá não está - ou aquilo que continua a respirar, em algum sítio, longe daqui, onde eu não posso estar. E existirão, algures, mais faces para apagar do meu corpo: irão cruzar-se comigo em ruas estreitas, numa qualquer cidade da qual nunca chegarei a saber o nome - e essas mesmas faces far-me-ão apagar tudo aquilo que desenhei. Tenho os dedos inchados por tentar tanto escrever o que seria de ti um dia. Fiz várias perspectivas, todas diferentes, com várias cores, poses, fundos, e nada resultou - a não ser uma névoa branca, onde não te conseguia ver. Talvez fosse o prelúdio daquilo que me virias a dizer, mais tarde: que os nossos dias nunca se apagam, e que tu desaparecerias, em meu lugar.

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