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terça-feira, março 22, 2005

Rosto ausente.

Existe, por fim, uma parede onde atirar o barro da nossa infância. As milhentas perguntas de outrora surgem agora com resposta, as imagens não mais estão dúbias e indefinidas - tudo se assemelha a um adeus-interminável.

Hoje dói-me o peito por te fazer nascer. Criar-te as mãos para que me escrevas indefinidamente, deixar o meu rosto à tua mercê para que julgues, não hoje mas amanhã, que nasceste para sempre num qualquer local, onde as vozes escasseiam e se inflamam, sem que os nomes se pronunciem, sem que os sons sejam reconhecidos sem que alguém ouça.

De nós nada resta para os filhos.

Somam-se horas intermináveis diante das ruas voláteis e pequenas: rostos ausentes entregues a uma qualquer voz de chuva que lhes ordena que cerrem os olhos cerrem as mãos cerrem os ouvidos e sejam algo que nunca existiu.

E
de novo
os degraus
que me conduzem
à tua distância-sem-corpo.

quinta-feira, março 10, 2005

Os dias em falta.

Solitude is around us e atinges, no auge da juventude, todas as formas possíveis de estar no teu próprio corpo. As mãos dóceis abrilhantam-se com as cartas escritas e por entregar: as vozes ténues afastam-se à medida em que se despedem: os pés somam fogos-fátuos enquanto se calculam os d i a s-e m-f a l t a: os olhos retornam ao quarto: o repouso. Chega, enfim, o fim de tarde e as palavras que irrompem pela imagem plúmbea da alma - incumbem-se tarefas impossíveis aos filhos para que o cansaço reste e outros dias cheguem e a fundura do desejo esconde-se por entre os dedos: as unhas crescem apenas para finalizar once and for all todas as novidades que um dia trarás quando já não conseguires reconhecer a forma que escolheste para o teu abandono.

quarta-feira, março 02, 2005

Everybody is changing e a nossa memória resta no mesmo sítio. As mãos tripartidas cobertas de gelo a voz cansada que pede o retorno os meus olhos semi-circundados pela voluptuosidade do teu cheiro tudo isso surge durante as noites de abandono. Há momentos em que a face se regenera e disfarça um sorriso como que em concordância com o mundo que chegou a casa para jantar. Todas as cadeiras em círculo: a disponibilidade do ser em magoar-se com alimentos de morte plantados nas pálpebras que se fecham quando a luz se torna demasiado forte: e o teu chamamento que chega depois da hora.