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sexta-feira, agosto 29, 2003

Abraça-me para que se foda o mundo. Hoje chove, sabias? Andei pela rua a molhar os pés, a deambular no meu caminho para casa. E não sei como aqui vim parar. E depois, quando menos se espera, surge de rompante uma musica que nos ficou no ouvido o dia todo: aí, relemos e relemos um texto que ficou pelas nossas mãos, imaginamos milhares de cortes a voar pela pele, à espera de um local propício e carnudo para aterrar, onde um dia irá sobressair uma marca, uma cicatriz, um rosto. Asfixio, gelo-me e não me consigo mexer - o meu pior medo. Estou sobre um penhasco, os meus pés são gigantescos e mesmo assim não chegam ao chão. Lágrimas vertem do solo, por entre a erva e os paus quebrados ou queimados. Estou não sei onde. Não sei o que faço. A minha embriaguez verga-me a um silêncio abrupto que não consigo lavar ou alargar, em redor do meu pescoço.
O tempo está a correr daqui para fora. E tu, onde estás? Eu estou a cair vertiginosamente, a vontade de me deixar cair subjuga-me à inércia de agradecer o frio que vem do norte, onde eu nunca fui. Asfixio novamente. A garganta implode energicamente, as minhas mãos vibram por mim acima sem saber o que encontrar, sem saber se procurar nos bolsos os bilhetes que deixámos ou na carteira o troco que o motorista pede sempre quando saio de tua casa.
Abraça-me e que se foda o mundo.

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