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quarta-feira, agosto 13, 2003

Escrevo-vos estas palavras que sei que não vão nunca entender mas, como todos nós sabemos, tudo fica no seu lugar - somente eu parto. Não quero aconselhar-vos a fazer algo que eu próprio não faria, que eu não iria sentir nunca, mas nunca é grande demais. Tudo o que nós temos é semi-perfeito - a nossa não-casa, as nossas não-portas, as nossas não-chaves, tudo o que é nosso mas que ainda não temos. Isto é o inadmíssivel a tomar conta do meu corpo, enquanto te chamo de uma forma estranha e frágil - vocifero como se nada passasse de hoje, como se eu fosse acabar tudo o que deixei por começar ainda esta noite - mas a noite acabou agora. Já é tarde, já não me chamas como antes e eu esqueço-te. Esqueço o teu corpo, o teu olhar, o teu tudo que já não me pertence. És jovem, eu padeço de um mal que me assola, circunscrevo as minhas memórias com traços de fogo, sem que a minha pele se queime e sem que tu notes. Tudo aquilo que fazes já não me cabe a mim avaliar - és pesada demais para o meu corpo, para os meus dedos que tentam, a todo o custo, prender-te a uma imagem difusa e escura de um dia onde deixámos tudo para trás, quando tudo ficou no mesmo sitío excepto nós.

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