Os amoladores de facas descem a rua
como que se
debaixo do asfalto se e s t e n d e s s e m
os nossos corpos, de mãos abertas.
As cicatrizes rolam pelo teu corpo
como pedras de sal ao fim
do dia
No céu voam nomes e rapidamente me
esqueço da aparência que assumiram durante
a noite.
Cospem bombas e bombas
e bombas
pelos orifícios do corpo
como que levados por um mal maior - o de sobrevoar
cabeças que não pertencem a nin guém.
Deixam-se cair, enquanto que no chão
se ouvem os silvos das balas balas
balas e da guerra:
.
não deixar nada a este mundo é uma palavra
que se escreve.
Num canto do corpo, as palavras
saem como se a pele estivesse rasgada
e eu fosse um desenho inerte.
Onde estou, o frio supera-me e
tudo o que me resta são pequenas fogueiras
que se vão estendendo pela rua.
Pequenos olhos sobressaem quando olho
para a ladeira - como pequenas luzes, atormentados
pela cegueira e pela insónia.
.
Por isso, hoje volto
atrás.
Para que nada falte ou para que eu me saiba como um asfalto enegrecido
Estavas a despertar, lembro-me. Como se raiasse pelas entradas da cidade
o teu corpo desnudo.
E uma criança ergue-me pelo meio do pátio
e exibe-me como o brilho do sol a irradiar na minha pele
já
sem
sangue.
A criança sorri - e eu, nas mãos dela.
Este o movimento l-â-n-g-u-i-d-o dos dias,
em transpo
sição
entre as mãos, como o peso de uma mulher nas pálpebras
Æ’Sujam-seÆ’ vidraças quando a respiração
surge, ao abrir-se-me a boca e ao relembrar outras horas
que surgem como capturas, escondendo-se por entre o cabelo e no perfume das heras.
Quando noto que estás ali, levo-te a casa
pelo
meio
das ruelas
enquanto o tempo está quente enquanto tu não notas que te perdes.
E assim hoje se torna meia-noite onde todos os comboios passam
e enquanto estou aqui.
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