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quinta-feira, fevereiro 19, 2004

Fumo o último cigarro antes do trabalho suave de me esquecer. Os dias multiplicam-se de uma forma abrupta e gélida. O sol raia, mas tal é invísivel. O nosso corpo demolha-se nas águas do cais. No sal da pele. Sei que os corpos se transportam de uma forma maleável, esponjosa e triste: a minha boca esgota-se, sobressaem-se-me de dentro os mapas que me dizem que nunca hás-de conseguir. Tudo aquilo que já tiveste já não existe: as ruas desapareceram em derrocadas do espírito, as minhas mãos são hoje pedaços de metal fundido com fumo de tabaco a esfumar-se e a colorir-me. Não serei mais nada daquilo que desejaste. Nem um dia destes, nem hoje. Sei que as palavras assumem contornos pesados nestas alturas, e o silêncio assemelha-se-me à forma perfeita de te dizer tudo aquilo que as nossas noites não deixaram. Espero que te lembres, e espero que consigas recordar-me inteiro quando, de manhã, esperares o alimento para o teu cansaço. E quando o tempo da primeira refeição chegar, sei que terás a certeza de que não há mais nada, e de que o meu silêncio me substítui hoje, a teu lado, na tua cama larga demais.

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