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sexta-feira, fevereiro 27, 2004

Sei que, de dentro de nós, várias coisas se ressalvam: temos a perfeição dos dias como algo normal e constante. Não imagino o tempo quando tu não estás e, por ora, apenas os teus olhos a surgirem em cortinas de água me empalidecem os sentidos - poucos - que tenho, ténuamente disfarçados de neblina. Sei que existe sempre um momento em que fugimos das palavras, sem pensar onde nos iremos antever; sem saber que iremos ter em nós a certeza de que, algures por essas ruas, onde o nosso espiríto um dia se confluíu, estão rasgos da nossa pele que então incandesceu por nós afora: as nossas vozes coladas nada deixaram transparecer. O medo era algo como uma aparição desmedida, as noites sucediam-se com ritmos estranhos e melancólicos. Dávamos por nós a olhar o tempo escoar pelas frestas da janela, junto da chuva que nada trazia do verão que um dia conhecemos. - E agora ? - dizias. Sei que não te respondi de imediato, sei que as nossas mentes, ao sentirem a madrugada em uníssono, seriam meras consequências do sono que a velhice indubitavelmente nos trazia. Mas agora, no final de tudo, olho-me: estou cansado, os cabelos tenho-os crispados por todos os rostos que descrevi; as mãos, trémulas, estão apoiadas nos meus quadris como que a servirem de ombreira para a posição estranha do meu corpo: a mesma que sempre tive enquanto te desvio o cabelo e te vejo ter-me.

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