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sábado, fevereiro 14, 2004

Sei que os dias acabam de uma forma súbita. E mesmo assim estarei perto, de uma forma que nem tu julgaste ser possível. Sairei no meio da noite para um país qualquer longínquo, onde nem eu tenha sabor: onde respirar se torna desnecessário. Existem em mim marcas incandescentes de vozes, de risos desmesurados e de sombras tão grandes como as minhas mãos - cortadas - e febris. Preciso de voltar a casa, e sei que em mim já não há espaço suficiente para que todas as memórias influam, se destruam , copulem. E sem chegar, sem ver todas as photographias que tirámos, ficarei da mesma forma: ausente, levemente triste, suavemente apático.
Hoje vejo de uma forma espectacularmente ébria. O meu corpo pesa-me, a minha roupa alarga-se à medida que caminho e sei que será demorada a minha forma de te sentir. Escrevo cartas quando estou distante, queimo papéis sem linhas quando te vejo, desfocada, leve. Já não tenho a mesma certeza de te ter sob a pele, a pulsar e a respirar como se de um filho se tratasse. Não consigo fazer-te sobressair por entre imagens - o peso da infância. Lembro-me de como eras, de como o teu peito se me assemelhava a um destino com abrigo eterno onde eu me escondia das palavras. Hoje, as minhas mãos estão cansadas e o sangue escorre-se-me pelas unhas, como que em suplício pela torrente que me queima os cabelos e o cansaço.

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