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quarta-feira, maio 18, 2005

e o corpo.

O corpo é incessante alarga-se em redor das ruas
que já se mostram vazias. a sombra adianta-se-lhe.

o corpo que acende cigarros não é mais o mesmo: a voz foge-lhe
nos momentos em que os rostos se lhe assomam.

os passos tornam-se longínquos à medida em que a idade se
aproxima. recorda aquilo que já não é: tem consigo aquilo de
que já nada sabe. retira-se sempre antes do fim: discreto, escondido
por entre os restos daqueles que se lembram dele
mas que já não o reconhecem.

em lugar das mãos tem cartas.
em vez dos olhos tem duas vozes trémulas que perguntam, com receio,

'que horas são?'.

já não há velas que te levem onde queres ir.

a tempestade do amanhecer aproxima-se do corpo.

O corpo que dói.
O corpo que dilacera.

estende-se pelos quartos abandonados, pelos lençóis ainda
quentes e desmanchados. pelos cinzeiros azúis inerte.
mostra-se quando todos os outros já partiram: abre-se sobre as mesas
onde o alcóol prolifera

por onde o teu vulto jamais passará.

a cidade é jovem ainda. O corpo, esse, já se
despediu com um 'ad eternum' veloz.

e o meu corpo é este.

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