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quarta-feira, julho 13, 2005

a companhia nocturna.

As crianças vestem a idade dos pais; partem para o mundo com a certeza de que, ao cair da noite, ainda o corpo estará adormecido.

olham os outros. desconfiam dos sorrisos que lhes arremessam; permanecem, calmamente, encostados à esquina, esperando a companhia nocturna na sua cegueira.

não notam que os olhos estão repletos de febre
não sentem os nomes que saltam das mãos assim que as abrem.

esperam mais, até que a impaciência toma conta da voz.

praguejam contra a doença que os fez nascer; renegam para a garganta todas as imagens que tiveram sobre o amor; desistem de cobrir com a pele a tristeza que os invade

quando se apercebem que
ninguém há-de chegar.

dão meia-volta, deixam as roupas cair porque o corpo lhes foi insuficiente.
vêem os amantes pela rua,
perdem-se a contar os passos que lhes faltam para chegar a uma casa onde, sem surpresa, não haverá vivalma.

fintam as luzes para que cresçam apenas na penumbra: e assim apenas se poderão lembrar do quão escuro estavam os anos da espera.

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