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segunda-feira, novembro 19, 2007

tinhas a janela à tua frente e ouvias orquestras para sossegar o silêncio.

a janela negra era como o teu rosto que acorda durante a noite, febril. abrias os olhos com palavras em voos picados pelo quarto, palavras que sobrevivem e se reproduzem no escuro da solidão jovem.

procuravas sons que as tuas mãos sabem criar mas já nada existia: havia pessoas lá fora. havia quem tentasse olhar pela janela: por curiosidade; para tentar esquecer as suas próprias casas ou simplesmente por desatenção.

mas vidros opacos são óptimos espelhos.

decidiste, então, lavar o vidro. semi-cerraste os olhos para que a luz não os magoasse ou para que todas aquelas imagens que sobram do mundo não te penetrassem pelas pupilas dilatadas, perturbando o sono que se apoderava de ti.

- as noites são tumultos e revoltas de nomes que teimaste em esquecer.

limpaste do vidro anos e dias de medo. o teu corpo tremia, os dedos já não circunscreviam a tua dor como antes. notaste um vulto acercar-se a ti. permaneceste por detrás do vidro mas a tua respiração tornara-se ofegante

suas e os ombros encolhem-se

receavas a voz que surgiria, o que diria ou os silêncios que traria consigo. o rosto negro assomou-se à tua janela e observaste apenas os seus lábios gretados pelo frio.

apenas conseguias dar atenção à derme mal cuidada, o cabelo descolorado e imperfeito. dentro da tua memória reconheceste feições similares. não sabes quem é.

procuraste e ainda procuras o nome que te crescia por debaixo da lingua, preso à pele e sem conseguir soltar-se de ti.

tens tudo escrito na tua pele apenas para que não tornes a dizer o mesmo.

tentaste abrir a janela mas apenas o vento entrou pelo quarto, arejando as folhas amarelecidas e gastas: perdeste o teu sorriso quando tentaste recordar quem foste.

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