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quarta-feira, abril 15, 2015

S

I

não esperava que estivesses aí, ainda.

sempre pensei que o teu olhar se desviara, finalmente.

sempre pensei que o teu odor adocicado se afastara, de uma vez por todas, dos meus sentidos.

durante muito tempo, marquei no calendário a data do teu retorno e, no principio de cada ano, num dia muito específico, olhava para o céu à espera que nevasse - sempre nevou enquanto soubeste o meu nome.

mas deixou de nevar: deixei de ouvir a tua voz, de semestre a semestre, como acontecera até então.

recordei, durante meses, os lugares, os parques de estacionamento vazios, os olhos limpídos e cristalinos mas, anos volvidos, ainda sei de cor a reacção da tua pele ao vociferar do meu nome.


II

sei que os teus olhos brilhavam, apesar de não quereres que transparecesse.

sentia as tuas mãos, quentes e trémulas, à procura do seu lugar

e ele estava ali, tão perto 

lembro-me de tocar a tua pele, ao de leve, quase como uma brisa e saber que o teu corpo me conhecia.

mas aquilo que nunca soubeste foi que a minha voz também tremia, ao falar contigo;

os meus olhos rejubilavam por ter a visão da tua face, tão limpída e bela, à sua frente;
o teu odor tão esguio deixava-me com a sede de um fugitivo num deserto

e recordo-me que tudo isto aconteceu contigo - ali, tão perto - mas ainda hoje sei de cor a expressão que o teu rosto deixou escapar

por nos tocarmos pela última vez.

III

Ainda conheço o sabor da tua pele. E ainda reconheço o teu cheiro, o calor que emanas quando estás perto de mim, de nós.

Não sabia que voltarias, um dia.
Não sabia que me voltarias ao pensamento.
Não assim, de rompante.
Não assim, inesperadamente.

Quis que nunca tivesses saído daquele sofá, onde as serpentes que tinha em lugar das mãos passeavam no teu corpo feroz.

Quis que ficasses ali, a repetir aquela frase, como uma adolescente estupida de felicidade: I'm falling.


IV


Inúmeras foram as vezes em que segurei a tua mão na minha, em que te acariciei o cabelo sabendo o tremor que te irrompia pelas veias, pela derme e que se instalava, por fim, nos lábios.

Imensas foram as horas em que te imaginava sob o meu corpo, a tua respiração ofegante e larga, por sentir a magia que se seguiria.

E de cada vez que o vi, de cada vez que te sentia novamente nas minhas mãos, de cada vez que percorria cada milímetro da tua pele com os meus dedos - como na primeira vez - acordava, em sobressalto, sem que estivesses lá para me apaziguar com a tua voz serena, lânguida

doce.

V


Sabes o meu nome. É aquele que gritas, ofegante, quando sonhas a meio da noite, envolta no suor de me teres imaginado contigo toda a noite e depois acordas

sem mim.

2 comentários:

Anónimo disse...

Pena que tenhas de estar triste...

Força disse...

Triste é lindo. Há uma beleza colateral na dor. Desconfio de quem está sempre alegre. A vida é dor e quem disser o contrário mente.